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domingo, agosto 12, 2007

IMPARCIALIDADE



Certa vez um famoso editor de um diário paulistano encomendou ao seu melhor jornalista uma matéria especial.
- Quero uma matéria imparcial, neutra, independente, sobre o presidente da República.
Aí, o jornalista, com seus mais de 20 anos de janela, indagou, entre atento e sarcástico:
- Mas o senhor a quer contra ou a favor?

Você pode encontrar um jornalista, um escritor ou um radialista imparcial, mas certamente não vai encontrar, por inteiro, um jornal, revista, rádio ou canal de TV ou outro meio qualquer, imparcial.
Quando ouvimos uma crítica direcionada a algum político ou grupo, em qualquer meio de comunicação, seguramente, afirmo que ali existe um objetivo. E quando ouvimos um elogio direcionado, fique certo que alguém está pagando o preço.
Alguns profissionais de comunicação aceitam ser “obrigados”, para merecer o salário, a atender tais interesses. Para fazer justiça, necessário se faz dizer que inúmeros motivos podem os levar a tais condições. Tenho um amigo que afirma que: “a miséria corrompe”. Talvez ai a grande explicação para que, com justas exceções, algumas empresas de comunicação, paguem tão mal aos empregados e assim os mantenham num patamar de miséria submetendo-os a tais condições.
Esta é a regra, assim acontece e quem é do ramo fica entre o ditado: “ame-a ou deixe-a”. Eu, ainda, prefiro a preservação ao bom senso e até a busca de novas alternativas.
Desde que atenda seus interesses, um meio de comunicação qualquer pode ser imparcial. Classificaria de hilário saber de um canal qualquer: “aqui somos imparciais”.
Asseguro, pela experiência adquirida ao longo dos anos como comunicador, que verdadeiramente isso não existe. Todo canal de comunicação é instalado em defesa dos interesses de alguém. Se assim não for, será por meros interesses financeiros objetivando lucro, a exemplo de qualquer empresa comercial; e como tal, a organização vai precisar pagar suas contas.
Meu sábio, e já saudoso, avô, propagava que; “Quem não herda, enrica é m....”; “Quem trabalha não tem tempo para ganhar dinheiro”; e por ai vai. O problema é que há os que não herdaram e que também não podem parar de trabalhar, mas ainda assim querem a qualquer custo ficar ricos ou mais ricos.
Em princípio, as empresas de publicidade e comunicação teriam que sobreviver da venda do que eu chamaria de publicidade comercial. No entanto, admito; disso, é muito difícil um canal de comunicação conseguir pagar suas contas. O preço é muito para quem paga, e pouco para quem recebe. Sendo assim, para engordar o faturamento, os donos, sem opção, visam conseguir, exatamente das “propostas” a atender os “interesses” de algum projeto político ou de alguém que esteja administrando, por coincidência, a coisa pública.
Em síntese: Quando resolverem pagar o valor, a imprensa definirá o lado para o qual agirá de forma imparcial.
O preço disso não é pequeno, e o pior é que acaba sobrando para o povo que fica, além de tantos outros desfalques, mais uma vez, subtraído de melhores investimentos em áreas importantes como saúde, educação e bem estar social.
Quando você ouvir um meio de comunicação batendo em algum político caberá uma ou mais das alternativas a seguir:
1- Trata-se de um adversário político do dono;
2- Existe uma proposta financeira de publicidade sendo analisada;
3- O fato é verdadeiro, mas deixará de ser, no momento certo, pelo preço certo.
A questão maior é: de quem é a culpa? Até quando a imprensa vai agir assim?
Embora existam diversas vertentes para responder tais perguntas, afirmo que enquanto um meio de comunicação tiver dono, não haverá imprensa imparcial.
Diante do exposto, aproveito a oportunidade para deixar um conselho aos colegas de profissão para que não tenham que em algum momento engolir alguns sapos ou passar constrangimentos por afirmações impensadas. Muito cuidado ao pronunciar a frase, “Aqui somos imparciais”. O correto seria, para regar e servir melhor a consciência, dizer: “Eu procuro ser imparcial, mas será que eu posso?”.
Infelizmente é assim.
Amigo leitor,
Até quando você acha que duraria o emprego de um profissional de comunicação que atendesse ao meu conselho?...
Então, quando você ouvir ou ler a famosa frase: “aqui somos imparciais”, perdoe o profissional.
Em nome da classe eu agradeço.

José Carlos Benigno é radialista.